sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Racha Cuca

A área de TI nas empresas muitas vezes é alvo de preconceitos por diversos motivos como ter “altos” salários, não ser parte ativa da matriz produtiva, etc... Não é diferente aqui. Trabalhávamos na sala cofre, uma sala concebida para extrair o máximo de produtividade dos funcionários. Sem relógios, iluminação controlada, sem janelas. Tudo isso para nos tirar a noção de tempo, porém tudo isso mudou. Devido a uma reforma fomos despejados simplesmente para o telhado da empresa, bem ao lado da sala de maquinas e da fazenda de condensadores.  Pode parecer ruim, mas não era. Contávamos com 2 terraços com portas de vidros gigantes. Podia-se ver a luz do dia e até saber pelo som se chovia.

Após algum tempo na sala nova os terraços começaram a ser usados como lugares privados para reuniões informais, atendimento a ligações, entre outras coisas. Foi então que Marujo Fernão, conhecido também como o dragão do mar, iniciou uma brincadeira. Quando alguém saía para o terraço ele trancava a porta, deixando o colaborador preso no geralmente escaldante calor do terraço. Muitas pessoas foram vítimas dessa brincadeira.

Certo dia, Pupinambá teve a brilhante ideia de ao ir para o terraço levar consigo a tranca da porta. Certamente isso acabaria com a brincadeira do Fernão. A resplendorosa ideia logo foi ofuscada. Golias, usando toda a sua criatividade de peso, utilizou como tranca uma chave de fenda, que estava jogada em uma mesa.

Pupinambá fica chocado quando tenta retornar à sala, com sorriso no rosto, tranca no bolso, e não consegue. Não se deixando abater e, determinado a não se humilhar e desapontar seus heróicos antepassados. Ele decide não pedir que abram a porta e põe-se a pensar em uma fabulosa escapada, aquela que o transformaria em mito.

Preso no inóspito ambiente do terraço, Pupinambá recorda de uma conversa que teve com Leôncio, técnico de ar condicionado, que disse existir uma antiga e perigosa passagem que levava do terraço até a copa, a qual dava acesso a sala. Pupinambá suspira, quase delirando, imaginando a cara de surpresa de seus colegas ao vê-lo adentrar, triunfante, a sala.

Pupinambá deixa a segurança do terraço e salta para a pista técnica, que liga a casa de máquinas aos condensadores da ala oeste. Ele começa a percorrer o caminho em direção a casa de maquinas, onde terá acesso à pista técnica da ala leste, e então à entrada para copa. Após andar alguns metros, depara-se com um obstáculo que o obriga a agachar e passar de cócoras por baixo dele. Devido a algum erro de cálculo, Pupinambá acerta o obstáculo vigorosamente com sua testa. A pancada fez nosso herói perder os sentidos por algumas frações de segundos.
Recobrado da consciência, Pupinambá sente o sangue quente escorrendo por sua fronte. Incapacitado de continuar, ele retorna para o terraço e aparece na porta de vidro, ensanguentado, pedindo socorro. Charles vendo a cena dantesca deixa o espirito da “zoeira never ends“ de lado e abre a porta para Pupinambá.

De certa forma Pupinambá teve êxito.

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